Apenas dois minutos de notícias ruins sobre a Covid-19 são suficientes para piorar o estado emocional das pessoas e três minutos de relaxamento são capazes de reverter o processo e melhorar o humor.
É o que diz um estudo do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein realizado no segundo semestre de 2020 e publicado recentemente na revista Internet Interventions, um dos principais periódicos científicos sobre aplicação da tecnologia da informação em saúde mental e comportamental.
O objetivo era avaliar como notícias positivas ou negativas poderiam interferir no estado emocional.
Para chegarem à conclusão, os pesquisadores Elisa Kozasa e Paulo Rodrigo Bazan avaliaram os resultados de um experimento online com 245 profissionais de saúde do Einstein, atuantes em hospitais públicos e privados, e 717 pessoas do público em geral, maiores de 18 anos, recrutadas através das redes sociais.
Cada participante assinou um termo de consentimento e respondeu um questionário sobre seu estado emocional. Depois, foi sorteado para receber um áudio de notícias positivas ou negativas sobre a Covid-19 com duração de dois minutos e posteriormente teve o estado emocional reavaliado. Os pesquisadores compararam as respostas dos dois questionários.
O estado emocional foi medido em uma escala desenvolvida para avaliar o quão ansioso, estressado, esperançoso, consciente sobre as emoções, irritado, desanimado, alegre, otimista e preocupado o participante estava se sentindo no momento da avaliação.
“Com dois minutos de notícias negativas, que basicamente falavam sobre a taxa de mortalidade e os óbitos de Manaus, as pessoas pioraram o estado emocional. Aquelas que ouviram as positivas, que na época eram sobre as vacinas chegando e as situações de solidariedade, com pessoas em acolhimento e entregando doações, melhoraram o emocional”, explica Kozasa.
A pontuação foi atribuída ao estado emocional em três situações distintas: antes de ouvir notícias de conteúdo positivo ou negativo, logo depois de escutá-las e após passar por um relaxamento de 3 minutos, que consistiu em relaxar o corpo e prestar atenção à respiração em um ritmo lento.
“Depois de ouvir o áudio do relaxamento, o grupo de notícias negativas melhorou e o que tinha recebido notícias positivas melhorou ainda mais. O que a gente também vê de importante aqui é que mesmo as pequenas pausas podem fazer a diferença”, diz a especialista.
Segundo a pesquisadora, os resultados mostram que é preciso prestar mais atenção no tipo de notícias que se consome. “Elas alteram o estado emocional em dois minutos. Vale para população em geral e, principalmente, para os profissionais de saúde, considerados sensíveis e de risco neste momento da pandemia”, diz.
“Ficar consumindo notícias de conteúdo negativo pode potencialmente afetar nossa saúde, especialmente se associado a outras fontes de estresse comuns ao trabalho, contribuindo para a piora de doenças físicas, como as cardiovasculares, e sintomas de saúde mental, como insônia, depressão, esgotamento, ansiedade, medo de transmitir infecções, aumento da dependência de substâncias”, afirma Kozasa.
“Piores escores no questionário emocional foram associados à presença de transtornos mentais e melhores escores à prática de atividade física ou meditação e ioga”, completa.
Para a pesquisadora, é importante balancear as notícias que se consome. “É claro que é importante saber o que está acontecendo. A verdade está aí. Não só ouvir notícias negativas, mas também coisas boas. E talvez não seja só notícias, mas ouvir uma boa música, ter um tempo para entretenimento e tempo saudável para coisas positivas. É aprender a direcionar o olhar para as importantes facetas da vida.